Argumentos estúpidos para censurar games


Você é adulto, paga seus impostos e está louco para comprar o novo episódio de God of War, GTA ou Modern Warfare para jogar e relaxar um pouco depois do trabalho. Em breve, talvez não vá poder. Tem um senador que acha que pode decidir o que você pode ou não jogar. A volta da censura está batendo à nossa porta e o patético projeto de lei caminha a passos largos em Brasília.

A ideia de jerico é de Valdir Raupp, catarinense que é senador pelo PMDB de Rondônia. Segundo seu projeto de lei nº 170, datado de 2006, vai ser crime fabricar, importar, distribuir ou comercializar sob qualquer forma videogames considerados “ofensivos aos costumes, às tradições e religiões”. O projeto está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, mas ainda precisa passar pelo plenário do Senado, pela Câmara e pela aprovação final da Presidente Dilma.

As bases do projeto de lei, no entanto, esbanjam preconceito, desinformação e autoritarismo com 7 argumentos estúpidos.

1. OFENSIVIDADE
O primeiro problema aqui é saber quem vai determinar o que é “ofensivo aos costumes e religiões”. Nos anos 1980, a cultura nacional foi massacrada pelas ideias retrógadas e preconceituosas da censora Solange Hernandes, que foi um autêntico câncer na produção cultural brasileira da época. Agora, o senador Raupp quer trazer a censura de volta, mas apenas para os videogames.

O que ele considera “ofensivo” pode ser encontrado todos os dias em qualquer novela do horário nobre da TV Globo, que esbanjam tramas recheadas de violência, sexo, traição e péssimos hábitos. Mas ele não é louco de mexer com a Globo, é?

Esses mesmos argumentos também podem ser usados naqueles patéticos funks cariocas, que fazem apologia explícita a drogas, tráfico e comportamento sexual permissivo. Então, por que diabos voltar a artilharia contra os jogos eletrônicos?

2. EMBURRECIMENTO
O tal projeto se embasa em “pesquisas” obscuras que garantem que o videogame “muda as funções cerebrais e insensibiliza os jovens diante da vida”. Mas contra essa “pesquisa” isolada, temos dezenas de outras que atestam exatamente o contrário. Há até um seriíssimo estudo que mostra como os videogames podem ser usados no tratamento de crianças com transtorno de deficiência de atenção e hiperatividade (veja artigo sobre o estudo na revista EGW nº 116).


3. DESEDUCAÇÃO
O parecer de 2009 da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado chega ao absurdo de afirmar que “alguns videogames desprezam o comportamento correto das crianças, ensinando palavrões”.

Esse pessoal nunca viu nenhuma novela da Globo, não? Nunca viu os filmes sanguinários que a TV Record passa no horário nobre de domingo, notadamente depois de uma extensa reportagem que associava de forma leviana os games a comportamentos psicopatas? Será que esse pessoal do Senado fica tanto tempo tentando evitar CPIs internas que mal tem tempo de ver TV?

4. FABRICAÇÃO NACIONAL
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (edição de 6/7/2011), Raupp diz que os jogos “não são fabricados no Brasil” e que pretende criminalizar sua comercialização.

Bastava ele gastar 5 minutos do dia lendo outras coisas que não as páginas dos (abundantes) escândalos políticos para saber que alguns títulos já estão sendo fabricados no país, sim. Teve até aquele problema de vazamento do Mortal Kombat em Manaus, há alguns meses, que foi fartamente noticiado na imprensa.

5. PSICOPATIA
O senador também afirmou que “naquele episódio do Realengo (Rio de Janeiro), ficou comprovado que o cara estava praticando tiro nos videogames”. Ora bolas, também ficou comprovado que ele tinha motivações religiosas fortíssimas, que era um fanático que queria matar os “impuros”.

Curiosamente, isso não é lembrado nem pelo senador e nem pela reportagem preconceituosa da TV Record naquele fatídico programa anti-videogame Domingo Espetacular.

6. CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Na referida entrevista, o repórter da Folha então pergunta (na verdade, “informa”) ao senador se já não existe uma classificação indicativa para os jogos, que é obrigatória nas embalagens e até nas propagandas de revistas. A resposta foi sintomática: “Sabe que eu não sei? Acho que não tem”.

Dá para acreditar? Como alguém que não sabe nada sobre o tema pode querer criar uma lei que vai trazer de volta a censura a um dos mercados de maior expansão econômica do país?



7. PIRATARIA
Outra curiosidade desse projeto é a sua própria motivação. Ora, bolas, o mercado de jogos eletrônicos no país está dominado em mais de 90% de sua totalidade pela pirataria. A lei vai ser motivo de piada entre os pirateiros, que continuarão a vender do mesmo jeito, já que para eles não muda absolutamente nada.

Quem vai de fato sofrer com a volta da censura é o mercado legalizado, que paga impostos, emprega milhares de pessoas e faz tudo dentro da lei. Por que penalizar justamente quem “insiste” em pemanecer dentro da lei? Por que criar um projeto estúpido que vai fortalecer a pirataria?
Esse projeto de Raupp é um retrocesso absurdo, que traz a censura de volta ao país e que vai punir de forma devastadora o mercado legalizado. É, em suma, mais uma amostra de que essa atual geração de políticos brasileiros é desinformada e sem-noção. Os escândalos semanais de Brasília que o digam.

28/9/2011
por Fernando Souza Filho - Game World



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